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Monthly Archives: Janeiro 2013

Emanuel Jorge Botelho

30 Quarta-feira Jan 2013

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turismos

4.

(…) Em ano que já cá não está, ia eu a rasgar a miserável tristeza que, há muito, sitia o Campo de São Francisco, quando deparei com um casal em frente do banco de Antero.
Ela vinha de máquina fotográfica ao peito e ele, num rodopio imbecil, sentou-se, abriu os braços e disse em alta voz:
– “Tira-me uma fotografia! Foi aqui que o gajo se suicidou!”

Quando a máquina fotográfica disparou, todas as pombas, feridas de vergonha, levantaram voo… (p. 16)

30 Crónicas II com Ilustrações de Urbano, Publiçor, 2012

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«Kiss me, stupid»

30 Quarta-feira Jan 2013

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photomaton

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Vincent van Gogh

30 Quarta-feira Jan 2013

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a invenção do amarelo

a-field-of-yellow-flowers-1889(1)‘A Field of Yellow Flowers’ (1889)

Jorge Luis Borges

30 Quarta-feira Jan 2013

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«maneiras de se estar só»

A sua cegueira era de uma espécie muito particular, tendo crescido gradualmente a partir dos trinta anos, para se instalar para sempre a meados dos cinquenta. Era uma cegueira que o esperava desde o nascimento, porque ele sempre soube que herdara os olhos fracos da sua avó e do seu bisavô, ambos ingleses, ambos cegos quando morreram. E também do seu pai, que perdera a vista quase com a mesma idade que ele, mas que, ao contrário dele, a recuperara depois de uma operação, pouco antes da sua morte. Borges falava com frequência da sua cegueira, principalmente com intenções literárias: mataforicamente, como prova da «magnífica ironia» de Deus, que lhe dera «os livros e a noite»; historicamente, citando poetas de renome como Milton ou Homero; supersticiosamente, uma vez que era ele, depois de José Mármol e Paul Groussac, o terceiro director da Biblioteca Nacional que a cegueira afectara; com interesse quase científico, lamentando já não ser capaz de distinguir a cor negra entre a névoa pardacenta que o rodeava, e regozijando-se com o amarelo, única cor que restava aos seus olhos, o amarelo dos seus adorados tigres e das suas rosas predilectas, gosto esse que levava os seus amigos a comprarem-lhe nos seus aniversários gravatas berrantes que o levavam, a ele, a parafrasear Oscar Wilde:«Só um surdo poderia usar uma gravata como esta»; ou um tom elegíaco, afirmando que a cegueira e a velhice são diferentes maneiras de se estar só. (p. 15, 16)

Alberto Manguel, Com Borges, Ambar, 2006

Jorge Luis Borges

29 Terça-feira Jan 2013

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acasos ordenados, bibliotecas

As poucas estantes, contudo, continham o essencial das suas leituras, a começar pelas enciclopédias e pelos dicionários, grande orgulho de Borges. «Gosto de fazer de conta que não sou cego, que me aproximo dos livros como um homem capaz de ver», costuma dizer ele. «Ando curioso de novas enciclopédias. Imagino que posso seguir nos seus mapas os cursos dos rios e que descubro maravilhas nas descrições.» Gostava de explicar que, em criança, acompanhava o seu pai à Biblioteca Nacional e que, uma vez lá chegado, demasiado tímido para pedir um livro, contentava-se com algum tomo da Britannica que encontrava nas estantes de acesso livre e lia o primeiro artigo que se desdobrasse diante dos seus olhos. Por vezes, tinha sorte, como quando escolheu o volume De-Dr e se informou acerca dos Druidas, dos Drusos e de Dryden. Nunca abandonou este hábito de se entregar ao acaso ordenado de uma enciclopédia (p. 26)

Alberto Manguel, Com Borges, Ambar, 2006

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Frigorífico & dona de casa de 1950

29 Terça-feira Jan 2013

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nostalgias

1950sfridge

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Automóveis em 1950

29 Terça-feira Jan 2013

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nostalgias

1950 Automóveis Triumph_thumb[2]

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Jorge Luis Borges

29 Terça-feira Jan 2013

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bibliotecas

Por se tratar de um homem que considerava o universo como uma biblioteca e que confessava ter imaginado o Paraíso «sob a forma de uma biblioteca», o tamanho da sua própria biblioteca era toda uma decepção, talvez porque ele soubesse, como disse em certo poema, que a linguagem não pode mais do que «simular a sabedoria». Os convidados que chegavam a sua casa esperavam achar um sítio a abarrotar de livros, estantes cheias, pilhas de volumes bloqueando as portas, transbordando de cada vão, uma selva de tinta e papel. Pelo contrário, descobriam um interior em que os livros ocupavam apenas uns quantos cantos discretos. Quando jovem Mario Vargas Llosa visitou Borges em meados dos anos 50, percorreu o interior humildemente mobilado e perguntou por que razão não vivia o Mestre num sítio maior e mais luxuoso. Borges ofendeu-se com a observação. «É possível que em Lima façam as coisas assim», respondeu ele ao indiscreto peruano. «Mas aqui, em Buenos Aires, somos menos devotos da ostentação.» (p. 26)

Se alguma coisa faltava nas estantes da biblioteca do apartamento, eram os seus próprios livros. Não sem orgulho, explicava aos visitantes que solicitavam ver uma edição primeva de uma das suas obras que não possuía um volume que fosse em que estivesse o seu nome «eminentemente esquecível». Uma vez, estando eu em sua casa, o carteiro apareceu com um grande pacote que continha uma edição de luxo da sua narrativa «O Congresso», publicada em Itália por Franco Maria Ricci. Era um livro imenso, encadernado a seda negra, protegido por um estojo do mesmo material, com letras de ouro impressas num papel Fabriano azul feito à mão, com cada uma das ilustrações artesanalmente trabalhada (o conto fora ilustrado com pinturas tântricas) e com cada um dos exemplares numerado. Borges pediu-me que lhe descrevesse o objecto. Escutou com a máxima atenção e exclamou: « Mas isso não é um livro, é uma caixa de bombons.» E, acto contínuo, ofereceu-o de presente ao tímido carteiro. (p. 30-31)

Alberto Manguel, Com Borges, Ambar, 2006

Jorge Luis Borges

29 Terça-feira Jan 2013

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da noite à hora do pombo

(…) ao falarmos de poesia podemos dizer que a poesia não faz o que pensava Stevenson – a poesia não tenta pegar numa porção de moedas lógicas e transformá-las por magia. Pelo contrário, devolve a linguagem à sua fonte. Lembrem-se de que Alfred North Whithead escreveu que entre as muitas falácias há a falácia do dicionário perfeito – a falácia de pensar que para cada percepção dos sentidos, para cada afirmação, para cada ideia abstracta se pode encontrar um equivalente, um símbolo exacto no dicionário. E o próprio facto de as línguas serem diferentes faz-nos suspeitar que isso não é assim.

Por exemplo, em inglês ( ou melhor, ente os Escoceses) temos palavras como «eerie» e «uncanny». Estas palavras não se encontram noutras línguas. (Bem, claro que temos o alemão unheimlich.) Porque é assim?

Porque as pessoas que falavam outras línguas não tiveram necessidade destas palavras – suponho que uma nação desenvolve as palavras de que precisa. Esta observação, feita por Chesterton (penso que no seu livro sobre Watts), equivale a dizer que a língua não é, como o dicionário nos leva a crer, invenção de académicos ou filólogos. Pelo contrário, foi desenvolvida ao longo do tempo, durante muito tempo por camponeses, pescadores, caçadores, cavaleiros. Não veio das bibliotecas, veio dos campos, do mar, dos rios, da noite, da madrugada.

Portanto, temos na língua o facto (e isto parece-me óbvio) de as palavras terem começado, em certo sentido, como magia. Talvez tenha havido um tempo em que a palavra «luz» parecia luminosa e a palavra «noite» parecia escura. No caso «noite» podemos supor que serviu primeiro para a própria noite – para as suas trevas, as suas ameaças, para as estrelas brilhantes. Depois, passado muito tempo, chegámos ao sentido abstracto da palavra «noite» – o período entre a hora do corvo (como dizem os hebreus) e a hora do pombo, o princípio do dia.

Já que falei de hebreus, podemos encontrar mais um exemplo no misticismo judaico, na Cabala. Para os Judeus, parecia óbvio haver um poder nas palavras. É esta a ideia por trás de todas essas histórias de talismãs, de Abracadabras – histórias que encontramos nas Mil e Uma Noites. Liam no primeiro capítulo da Torah:«Deus disse, “Faça-se luz” e fez-se luz.» Por isso parecia-lhes óbvio que a palavra «luz» dispõe de força suficiente para engendrar, para criar luz. (pp. 92-94)

Este Ofício de Poeta, Teorema, 2002

Mozart

27 Domingo Jan 2013

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