Benjamin Clementine – Cornerstone
23 Segunda-feira Nov 2015
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in17 Terça-feira Nov 2015
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O ANJO DO JULGAMENTO FINAL NA COBERTURA DA CATEDRAL DE NOTRE-DAME DE PARIS
«O Anjo N.-D. incha as bochechas ao máximo.»
(Blaise Cendrars)
Quantas vezes já acabou o mundo
E quantas já
Trouxe este anjo à sua trombeta o sinal
Da violência? De noite a luz
Confunde os que seguem sem saber
Mais do que do riso e da sensação
De liberdade. De noite há gente
A partilhar a voz e o olhar
Com outra gente. E há um anjo
De cabeça um pouco baixa, pronto
Para o sopro que inunde a cidade.
É de pedra e existe, fotografias
O trazem aos dispositivos onde
Qualquer um o pode ver. Existe
E, com ele, um sopro anunciando.
Anjo de pedra a filmar a cidade
No sonho de um homem que perdeu
A mão direita. De noite não há sol
E só poucos olham em volta
Ou escutam melodias solenes.
O anjo está, permanece, imagem
Branca, carcomida pelo tempo.
Ali, como em outro lugar do mundo,
É apenas coisa em pedra, esculpida
Por mãos já sem nome, por operário
Errante à procura
De olhos aos quais mostrar beleza
Para que o mundo não acabe. Quantas
Vezes soprou o vento com mais força
E desgastou estas asas? Um anjo
Feito do silêncio da pedra, feito
De formas evocando o corpo
De um jovem vestido de túnica e descalço,
Setecentos e tal anos depois
Trazido ao brilho electrónico para
Atenuar o terror da morte
Colectiva, da guerra ignorada. Anjo
Reconhecido pelo enquadramento
Do céu branco, manhã
Onde poeira e incerteza se dissipam.
Rui Almeida
(inédito)
17 Terça-feira Nov 2015
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PRO DOMO (Prefácio da Edição de 1949)
Considero as “Memórias” como a verdadeira enciclopédia do século XVIII, ao contrário da Enciclopédia de Diderot, não só por serem vivas mas porque obra de um só homem não ideólogo nem teórico, o grande jovial desse Casanova que conhecia o mundo, pessoas e coisas, e o modo de viver de todas as classes da sociedade nos países da Europa, e a estrada e as hospedarias, os bordéis, as espeluncas, as criadas de quarto, as filhas dos banqueiros e a imperatriz da Rússia, para quem fez um almanaque, e a rainha da França a quem fez uma entrevista, as actrizes e as cantoras de ópera, Casanova, que aos olhos da polícia passava por um escroque perigoso e nos salões por belo jogador ou feiticeiro, o brilhante cavaleiro de Seingalt, cavalheiro de indústria que frequentava os operários, os artesãos, as bordadeiras, as perfumistas, o povo humilde das ruas, cocheiros e aguadeiros a quem tratava tão tu cá tu lá como o príncipe de Ligne, como o conde de Salmour que morria de impaciência pela continuação das suas memórias quando não estavam ainda publicadas, embora circulassem à socapa em correios rápidos que galopavam através da Europa (e desde então o público não conseguiu aplacar a sede!), o homem que tinha sessenta anos de idade quando se improvisou escritor para colmatar os ócios de bibliotecário num castelo da Boémia, os serões e as noites de Inverno no castelo deserto do conde de Wallenstein de Dux, que apesar dos vinte e cinco mil volumes da sua biblioteca eram mais longas que as mil e uma noites de Xerazade, o folgazão que ao sentir-se ficar velho e solitário revivia a sua vida trepidante enchendo cadernos enquanto acrescentava achas ao fogo da lareira, e parece-me prodigiosa a sorte destes escritos que se transformaram num dos grandes livros do mundo apesar de o velhote nada ter de homem de letras nem dominar a língua, e a versão que se conhece das “Memórias” nem ser o texto original nem sequer tradução fiel ou arranjo moralizador, ou uma escolha dos melhores pedaços, ou adaptação picante, erótica, o que é caso único na história da literatura mundial em relação a um escrito que se fez de cabeceira e bem prova que, apesar da opinião dos psicólogos, dos moralizadores, dos historiadores, dos homens de letras profissionais, ninguém precisa de estilo, gramática, ortografia, ciência, ideias, religião, nem mesmo uma qualquer convicção para escrever um livro imortal, e que o temperamento e o amor à vida bastam, tanto como o divertimento que é escrever sem pretensões e pelo único prazer de contar histórias vividas. (p. 20-22)
Blaise Cendrars, “O Fim do Mundo Filmado pelo Anjo N.-D.”, Assírio & Alvim, 2004
17 Terça-feira Nov 2015
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Pessimismo ou Realismo?
Quanto ao ‘pessimismo’ do Qohélet, uma outra questão constantemente suscitada, afirma-o, por exemplo, a Enciclopédia Garzanti di Filosofia. No verbete respectivo. lê-se que falta ao Eclesiastes uma “rigorosa organicidade”; que ele deve ser visto antes como uma “coleção de apontamentos”, na qual “confluem, junto a máximas inspiradas na sapiência tradicional, outras caracterizadas por um negro pessimismo e quase por uma visão materialista, em tensão, se não em contradição, com as primeiras”, o que teria tornado difícil a acolhida do livro no cânon bíblico. A leitura em clave pessimista é recusada por Henri Meschonnic, a partir da perspectiva de um judaísmo laico, cioso de sua diferença, não resolúvel em ecumenismo: “Este livro é construído por suas obsessões. Exemplos, provérbios, tudo é ritmado pelo movimento de ressaca, pela repetição dos termos, cuja visada não é o pessimismo, mas a lucidez, não o abstrato, mas o concreto.” Também N. Frye tem do Sábio uma compreensão diferente, no seu caso passada por um crivo que lembra a “ética do trabalho” protestante (tanto assim que Frye destaca, na pregação qohelética, a insistência no “fazer”, cf. IX, 10): “Ele não é um pessimista fatigado e desgostoso da vida, mas um realista vigoroso, bem determinado a abrir o seu caminho arrombando todas as portas aferrolhadas da repressão em seu espírito”. Ou ainda: “Qohélet transforma o conservantismo da sabedoria popular num programa ininterrupto de energia mental. Aqueles que, sem se dar conta, têm identificado uma atitude religiosa seja com a ilusão, seja com a indolência de espírito, não são guias seguros para este livro, embora representem uma longa tradição”. (pp. 22-23)
QOHÉLET/O-QUE-SABE – ECLESIASTES, POEMA SAPIENCIAL, Perspectiva, 2004
09 Segunda-feira Nov 2015
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